Será que eu preciso de você?

                Assistindo pela milésima vez o filme 'Como Eu Era Antes de Você', chorei como sempre e como sempre fiquei refletindo sobre a história e o quanto ele mexe comigo pelo fato dele não ser uma história de amor comum, é uma história totalmente inesperada, foge totalmente do clichê mocinha e mocinho que ficam juntos no final. A história no filme aborda um assunto totalmente inesperado numa história romântica, que é a eutanásia e no livro é abordado outros assuntos que é a eutanásia e o abuso sexual. São assuntos tão delicados que muitas vezes não temos a coragem de falar e preferimos fingir que não existe. Mas, eu quero falar sobre o filme, porque como ele é apresentado como mais uma história de amor que o casal se conhece e se transforma aos poucos através do amor que vai crescendo e mostrando o melhor de ambos de forma tão sutil e tão singela, que nos encanta e nos dá a sensação de que todos nós precisamos de uma pessoa que virá e nos salvará de nós mesmos, mas enquanto assistia o filme e pensava no quanto ele mexe comigo e o quanto o Will aparece para despertar na Louisa o desejo de viver o melhor da vida e no quanto que ele muitas vezes dá um chacoalhão nela mostrando o quanto ela é acomodada na sua vidinha simplória, sem nenhum tipo de ambição e também no quanto ele mexe comigo em relação à morte, porque tudo o que ela faz para tentar tirá-lo da decisão que ele já havia tomado é muito próximo do que eu passei com a minha mãe, aquele desespero tremendo de querer dar a vida pela pessoa que amamos, mas ao mesmo tempo sabendo que o amor muitas vezes é saber o que é o melhor para a outra pessoa e muitas vezes isso nos trará a dor de nunca mais ter a pessoa perto de nós. Enquanto pensava em tudo isso e também no título do filme, cheguei a conclusão que o que nós queremos na nossa vida é uma pessoa que irá nos salvar, um salvador, uma pessoa que virá e nos transformará, mas será que toda a confiança em que colocamos em uma única pessoa não deveríamos colocar em Deus e em nós mesmos? Porque a pessoa que poderá chegar na nossa vida e fazer tudo isso, só poderá fazer se eu der liberdade para ela poder fazer isso. Por que quantas pessoas passam por nossa vida e falam ou fazem a mesma coisa que essa tal pessoa especial nos faz e nunca pensamos na possibilidade de mudança? Quantas situações que passamos e não damos oportunidades para alguém nos transformar? Tem a ver com o momento que estamos passando na nossa vida e o quanto estamos disponíveis para essas transformações. No caso do Will foi o acidente que o deixou tetraplégico e no caso da Louisa foi a falta de perspectiva de um emprego melhor. E quantas vezes na nossa vida também acontece isso, já passamos por tantas situações que nunca nos impulsionaram a mudança, mas um dia aparece uma pessoa que de alguma forma nos encanta e nos faz refletir sobre a vida e com isso começamos a perceber que a mudança é inevitável ou morreremos, e depois que as coisas mudam passamos a ver a pessoa como nossa salvadora, mas na verdade essa pessoa foi um instrumento importante dessa mudança, nós que nos dispusermos a mudar, nós nos abrimos para o novo que essa pessoa podia nos proporcionar, por isso amor não é um sentimento qualquer sem controle, amor também é decisão. Eu me decido a te amar, eu me decido a deixar você me ajudar à melhorar, eu me decido à deixar você me mostrar o melhor de mim. Claro, que isso não pode me tornar uma pessoa egoísta de achar que eu não preciso de alguém para me ajudar nessa jornada, mas a partir do momento que eu percebo que a decisão parte de mim, eu começo a querer me conhecer e entender que eu não preciso de uma metade, mas que eu preciso ser inteiro e eu preciso de um outro inteiro para ambos ajudar um ao outro à transbordar e fazer a caminhada da vida muito mais prazerosa.

Valéria Rocha