***Um Museu de Novidades***






                      Uma das lembranças mais vivas que eu tenho na memória da minha infância, é dos passeios que eu fazia com os meus pais no Museu Paulista (Museu do Ipiranga). Sempre gostei do ambiente, do acervo, amava imaginar que naquele local havia morado reis e rainhas. Na adolescência, aquele local se tornou uma parte de mim. Eu tinha que visitá-lo pelo menos uma vez por ano, até minha mãe dizia que não fazia sentido isso, as coisas que estavam ali não seriam renovadas. Eu sabia disso, mas a sensação que me dava era de que o meu olhar iria tornar tudo aquilo novo. A minha última visita ao Museu do Ipiranga foi em 2008. Foi um dos momentos mais especiais que eu tive naquele local. Eu fui com o meu ex namorado, lembro que ele falou que dava vontade de andar descalço naquele piso, na hora tirei a sapatilha e andei um pouco com os pés no chão. Foi uma sensação maravilhosa! Parecia que aquilo tudo me pertencia, que eu fazia parte da época de sua construção. Tenho fotos lindas desse Museu. E o Museu do Ipiranga foi o Museu que abriu o meu coração para outros amores como o Museu da Língua Portuguesa e o Solar Da Marquesa. 
                    No Museu da Língua Portuguesa, fui em todas as exposições que teve, cada escritor que tinha a sua obra e vida exposta naquele local de que alguma forma marcava a minha vida. Quando o Museu pegou fogo fiquei muito triste porque era um local que eu conhecia tão bem. Todo ano criava uma expectativa para saber quem seria o homenageado e quando foi o Machado de Assis era como se eu estivesse diante do meu escritor favorito.
                    O  Solar da Marquesa eu não quis conhecê-lo, ele simplesmente surgiu na minha vida. Eu estava no Centro de São Paulo andando meio perdida, quando me deparei com uma portinha antiga perto do Pátio do Colégio. Quando eu vi tinha uma placa que estava escrito que ali teria sido residência da Marquesa de Santos. Eu já estava encantada pela história da Marquesa, por conta da minissérie da Globo "O Quinto dos Infernos", que mostrava o caso entre D. Pedro I e a Domitila ( Marquesa de Santos). Eu achava aquilo tudo instigante. Queria conhecer um pouco daquela mulher que mexeu tanto com aquele homem e para alguns historiadores foi o grande amor do Imperiador. Entrei, e me encantei pela arquitetura. Tudo tão lindo e da sacada dava para ver a cidade de São Paulo. Andei por aqueles cômodos imaginando como seria tudo aquilo na época, imaginei aquela mulher andando por ali com os seus vestidos, com toda a elegância da época e chorei. Chorei. Aquilo tudo mexeu comigo.
                      O meu sonho sempre foi o de conhecer o Museu Nacional no Rio de Janeiro. Eu via as fotos e ficava imaginando que naquele palácio a História não falava, mas gritava. Porque tudo aquilo deveria ser tudo tão vivo. As suas lembranças, os seus acervos, tudo aquilo deveria ser de arrepiar. Mas, infelizmente eu não tive a oportunidade de conhecê-lo, doeu. Doeu vê-lo queimar e ver que ele não gritava por conta de toda a sua importância e magnitude, mas ele gritava pelo descaso do nosso país com todo o seu significado. Gritou pelo abandono dos governantes que nunca tiveram a capacidade de reconhecer o seu valor e o deixaram sozinho chorando com os seus pedaços caindo ao chão. Na verdade, o que aconteceu no dia 02 de setembro de 2018 foi a forma escolhida pelo Museu para mostrar de forma visível o que está acontecendo no nosso país todos os dias na Educação, na Ciência, na Cultura e na sua História. 
                        Um dos motivos que me fez escolher a faculdade de História foi a de que a História é uma das ciências que mais dialoga com o seu pesquisador. Ela não tem respostas prontas, temos que estar dispostos à perguntar, mas principalmente à ouvir e no dia 02 de setembro de 2018 a nossa História não gritou, ela urrou de uma dor alucinante. Na internet muitas pessoas lamentando o ocorrido. Algumas pessoas realmente estavam tristes, outras estavam na influência do momento, na realidade todos nós deveríamos estar de luto, porque cada vez que uma parte de nossa História é destruída, com ela é destruída a nossa identidade como Nação.



Comentários

  1. Experiência maravilhosa
    Essa sua .infelizmente não tive A mesma sorte e pelo o que eu ouvi que o museu do ipiranga so vai reabrir em 2002
    Mas me deu um desejo imenso de conhece lo
    enquanto ainda se tem não é mesmo ?
    Obrigado por compartilhar essa experiência linda parabens

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    Respostas
    1. O Museu do Ipiranga, o governo disse vai reabrir em 2020. kkkkk

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  2. Infelizmente uma história de 200 anos de um povo totalmente perdida por descaso desses politicos.

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